Morreu nesta quarta-feira, aos 80 anos, o poeta, escritor, dramaturgo,
jornalista e cronista Sérgio Jockymann. Desde novembro, ele estava internado no
Hospital da Unicamp, em Campinas (SP), para tratar-se de uma insuficiência
renal.
Transcrevemos um poema, por ele escrito em 1978.
E que sejamos todos “razoalvelmente úteis”.
OS VOTOS
Pois, desejo
primeiro que você ame,
E que amando,
também seja amado.
E que se não for,
seja breve em esquecer,
E que esquecendo,
não guarde mágoa.
Desejo, pois, que
não seja assim,
Desejo também que
tenha amigos,
Que mesmo maus e
inconseqüentes,
Sejam corajosos e
fiéis,
E que pelo menos
num deles
Você possa confiar
sem duvidar.
E porque a vida é
assim,
Desejo ainda que
você tenha inimigos.
Nem muitos, nem
poucos,
Mas na medida exata
para que, algumas vezes,
Você se interpele a
respeito
De suas próprias
certezas.
E que entre eles,
haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não
se sinta demasiado seguro.
Desejo, depois, que
você seja útil,
Mas não
insubstituível.
E que nos maus
momentos,
Quando não restar
mais nada,
Essa utilidade seja
suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que
você seja tolerante,
Não com os que
erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que
erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom
uso dessa tolerância,
Você sirva de
exemplo aos outros.
Desejo que você,
sendo jovem,
Não amadureça
depressa demais,
E que sendo maduro,
não insista em rejuvenescer,
E que sendo velho,
não se dedique ao desespero.
Porque cada idade
tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar
que eles escorram por entre nós.
Desejo, por sinal,
que você seja triste,
Não o ano todo, mas
apenas um dia.
Mas que nesse dia
descubra
Que o riso diário é
bom,
O riso habitual é
insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você
descubra, acima e a despeito de tudo,
Com o máximo de
urgência, talvez agora mesmo,
Mas se for
impossível, amanhã de manhã,
Que existem
oprimidos, injustiçados e infelizes,
E que estão à sua
volta.
Desejo ainda que
você afague um gato,
Alimente um cão e
ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o
seu canto matinal,
Porque assim você
se sentirá bem por nada.
Desejo também que
você plante uma semente,
Por minúscula que
seja,
E acompanhe o seu
crescimento,
Para que você saiba
de quantas
Muitas vidas é
feita uma árvore.
Desejo, outrossim,
que você tenha dinheiro,
Porque é preciso
ser prático.
E que pelo menos
uma vez por ano
Coloque um pouco
dele
Na sua frente e
diga: 'Isso é meu'.
Só para que fique
bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que
nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você.
Mas que, se morrer,
você possa chorar
Sem se lamentar e
sofrer sem se culpar.
Desejo, por fim,
que você sendo homem,
Tenha uma boa
mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem.
E que se amem hoje,
amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem
exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor
para recomeçar.
E se tudo isso
acontecer,
Não tenho mais nada
a te desejar.
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Publicado em
30/12/1978, no Jornal Folha da Tarde de Porto Alegre, RS.
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